É claro como a luz do sol que a sociedade de hoje tem aversão a qualquer ideia de sofrimento. Infelizmente, a igreja também participa dos mesmos temores.

É quase um insulto hoje em dia afirmar que o sofrimento é uma das marcas de uma igreja verdadeira. Lamentavelmente, por muitos anos tem sido pregado um tipo de evangelho que nega a realidade de que a igreja verdadeira sofre. Em muitos púlpitos se pregam mensagens triunfalistas. Contudo, a Palavra de Deus nos ensina que sofrer é um dos custos do discipulado.

O sofrimento pela causa de Cristo é bênção

“Amados, não estranheis a provação que como fogo vos sobrevém, como se vos estivesse acontecendo alguma coisa estranha.

Mas alegrai-vos por serdes participantes dos sofrimentos de Cristo, para que também vos alegreis e exulteis na revelação da sua glória.” (1Pedro 4.12-13)

A caminhada do discípulo de Jesus é notada pelo rastro da sua própria cruz. Na Bíblia, carregar a própria cruz é estar sujeito a ser rejeitado, humilhado e até morrer por causa de Cristo. Nosso Senhor Jesus Cristo sabe o que é sofrer. Ele foi rejeitado, humilhado e morto na cruz do Calvário. Veja o que Jesus ensina:

“E disse-lhes: É necessário que o Filho do homem sofra muitas coisas, seja rejeitado pelas autoridades, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, seja morto e ressuscite ao terceiro dia.

Jesus dizia a todos: Se alguém quiser vir após mim, negue a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.” (Lucas 9.22-23)

Assim como Jesus sofreu, nós, como Seus discípulos, também seremos alvos de sofrimento. É uma das marcas do verdadeiro discípulo de Cristo. Caminhamos neste mundo hostil ao evangelho, sendo testemunhas de Cristo. Com certeza, isso nos trará sofrimento.

Para evitar tal sofrimento muitos ditos pastores hoje pregam um evangelho que não exige nenhum custo. Pregam um tipo de graça que Dietrich Bonhoeffer chama de “graça barata”.

“A graça barata é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina comunitária, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados, é a absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado.” (Discipulado, Dietrich Bonhoeffer, São Leopoldo: Sinodal, 2004, p. 10)

Não é qualquer sofrimento de que se fala

Caro leitor, como cristãos não deveríamos estranhar o sofrimento como se algo estranho nos estivesse acontecendo. O sofrimento por causa de Cristo não é falta de fé ou sinal de problemas espirituais. É uma das marcas de uma igreja verdadeira.

É importante destacar que não estou me referindo a qualquer sofrimento. Refiro-me aqui àquele que é decorrente do discipulado como ato de seguirmos Jesus. Sofrer por causa de Cristo faz parte da vontade de Deus.

“Portanto, os que sofrem segundo a vontade de Deus devem confiar a vida ao fiel Criador, praticando o bem.” (1Pedro 4.19)

Essa atitude da parte de quem sofre só é possível porque Cristo sofreu com um tipo de sofrimento que é exclusivo a Ele: sofrimento expiatório. Diante disso, podemos descansar e suportar todo tipo de sofrimento por causa de Cristo.

Que Deus nos ajude a colocar em prática esse texto bíblico diante do que sofremos como discípulos. Discípulos de Cristo devem abrir mão de suas agendas e estar dispostos a sofrer um tipo de sofrimento que não é por causa de suas agendas.

Jonas Madureira diz:

“Não é Cristo que deve envolver-Se em nossos projetos pessoais. Não é Ele que tem de sacrificar Seus desejos para Se engajar em nossos empreendimentos. É o contrário. Nós é que devemos nos engajar nos planos que Jesus tem para Sua igreja. Nós é que temos de sofrer ao sacrificarmos nossas agendas em favor da agenda divina.” (O custo do discipulado: a doutrina da imitação de Cristo, Jonas Madureira, São José dos Campos, SP: Fiel, 2019, p.44)

O sofrimento dos cristãos no decorrer da história

O ensinamento de Jesus sobre o sofrimento do discipulado foi reafirmado pelos apóstolos, os quais também sofreram por causa de Cristo Jesus.

“Mateus sofreu martírio pela espada na Etiópia.

Marcos morreu em Alexandria, no Egito, depois de ser arrastado pelas ruas da cidade.

Lucas foi enforcado numa oliveira, na Grécia. Tiago foi decapitado em Jerusalém.

Tiago, o Menor, foi lançado de um pináculo no templo de Jerusalém, e depois espancado até a morte.

Filipe foi enforcado numa coluna na Frígia, a oeste da Anatólia (atual Turquia). Bartolomeu foi esfolado vivo em Albanópolis (atual Derbent, na província russa de Daguestão).

André foi preso a uma cruz, e dali pregou aos seus perseguidores, até morrer, na cidade de Pátras, na Grécia.

Matias foi primeiro apedrejado e depois decapitado em Jerusalém. Barnabé foi apedrejado até a morte pelos judeus, em Salônica, na Grécia.

Paulo foi decapitado, e Pedro foi crucificado de cabeça para baixo na capital do império, em Roma, por ordem do imperador Nero.

João foi posto num caldeirão de óleo fervente, mas escapou da morte e foi deportado para a ilha grega de Patmos, no tempo do imperador Domiciano.” (Servos de Deus: espiritualidade e teologia na história da igreja, Franklin Ferreira, São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2014, p. 37-38)

Isso deve nos lembrar de que devemos orar pelos nossos irmãos que estão sofrendo.

O sofrimento é preparado por Deus

O sofrimento é uma realidade para nós cristãos, mas não somos masoquistas, não devemos ir à procura dele. O sofrimento do discipulado não é achado por nós mesmos, mas nos é preparado pelo próprio Deus.

“Eis o caminho da cruz: tu não o podes achar; Eu tenho que guiar-te como a um cego. Por isso, nem tu, nem ser humano, nem criatura, mas Eu, Eu em pessoa, te ensinarei, através do Meu Espírito e Palavra, o caminho que deves trilhar. Não a obra que tu escolhes, não o sofrimento que tu imaginas, mas sim o caminho e o sofrimento que te é preparado contra a tua escolha, contra teu pensamento e desejo… A esse segue, a esse te chamo, nele sê discípulo; é tempo oportuno, teu Mestre chegou.” (Martinho Lutero, apud Madureira, 2019, p.43)

Minha oração é que possamos perseverar em Cristo ao sofrermos, que Deus nos ajude a glorificá-lO quando sofremos por causa de Cristo e que o Espírito Santo nos ajude a sermos corajosos no sofrimento.

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