Cristãos que lutam contra a pornografia já devem ter ouvido várias vezes sobre o perigo do vício. É uma porta de entrada para o adultério (e coisas piores). Todavia, não é sobre isso que quero escrever. Quero falar sobre como a pornografia destrói nosso imaginário em relação à doutrina do Imago Dei, a imagem de Deus.
“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gênesis 1.27)
Carregar a imagem de Deus significa compartilhar certos atributos da natureza de Deus. Esses incluem a capacidade de amar, de buscar a justiça, de ser criativo, entre outros. (Não significa ser como Deus, pois somos criaturas e os atributos que Ele nos comunicou são limitados. Também não quer dizer que nascemos perfeitamente bons. O pecado afetou e distorceu os atributos de Deus que carregamos em nós em toda a sua extensão.) Além disso, a imagem de Deus nos dá dignidade inerente. Somos diferentes dos animais por causa dela.
É essa doutrina que fundamenta o pecado do assassinato. Não temos o direito de matar um ser humano, pois, independentemente da pessoa, esta carrega a imagem de Deus. É por ela também que condenamos a prática da escravidão. Quando um homem utiliza o próximo como mero objeto de trabalho, este não é mais visto com dignidade e a imagem de Deus é violada.
No assassinato e na escravidão, o nosso imaginário é corrompido. Olhamos para a imagem e semelhança de Deus, mas enxergamos ali outra coisa.
Na pornografia não é diferente. Olhamos para uma pessoa (homem ou mulher) e a vemos apenas como um objeto de prazer. Nesse momento, o nosso imaginário não vê uma pessoa real, e sim outra coisa. A distância que a tela e o ambiente virtual proporcionam também auxilia no distanciamento da nossa mente com a realidade.
Eis um exercício imaginativo: como você reagiria se, ao acessar um conteúdo pornográfico, visse a sua esposa, a sua irmã ou mesmo a sua mãe? Seria devastador, não é mesmo? Isso acontece porque o seu imaginário sabe muito bem que essas pessoas são reais e dignas, pois você as conhece de verdade. Agora pense que essas atrizes e esses atores da indústria pornográfica também são filhas, filhos, irmãos, irmãs, pais, mães… Pessoas em situações degradantes e animalescas ainda possuem dignidade, não pelo que fazem, mas porque foram criadas à imagem e semelhança de Deus.
Não subestime o poder da sua imaginação. Trate-a bem. A mente que se entrega aos desejos mais sórdidos nos sites pornográficos será a mesma que imaginará a dor e o sofrimento da crucificação no sermão de domingo.
Quando a imaginação é violada, tudo à sua volta é afetado. Conforme o apóstolo Paulo, em Efésios 3.16, a nossa imaginação, ou a nossa alma racional, constitui o que o ele chama de “homem interior”. Portanto, se Cristo habita no homem interior, a nossa visão acerca das pessoas é transformada.
“E, assim, habite Cristo no vosso coração, pelá fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor,
a fim de poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade
e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados de toda a plenitude de Deus.” (Efésios 3.17-19)
Se você vê uma pessoa como mero objeto de prazer, muito possivelmente você vê Cristo como mero objeto de salvação. Se você quer enxergar Cristo como o Deus encarnado, a imagem de Deus em toda a sua plenitude, você precisará também enxergar prostitutas e prostitutos como pessoas que carregam a imagem do Eterno.
Atrizes e atores pornográficos são pessoas pecadoras, como eu e você, que necessitam urgentemente da graça redentora de Jesus Cristo que pode redimir nossa alma, nosso corpo e também nosso imaginário. Se hoje você é viciado em pornografia, certamente sua visão acerca de Deus é inadequada, por mais ortodoxa que seja a sua doutrina.
Como restaurar uma imaginação que já está há muito tempo entregue à pornografia? A única forma de restaurá-la é compreender que Cristo deve habitar em nosso homem interior.
No encontro com a Pessoa de Cristo, revelada na Palavra e que fala conosco pela oração, Ele, em nosso coração, substituirá imagens de morte por imagens de vida, imagens de corrupção por imagens de salvação e imagens de indignidade por imagens de dignidade. A partir daí, então, a imagem dEle será formada em nós.
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