O senso comum nos diz que o maior inimigo do amor não é o ódio, mas a indiferença. Há nisso uma grande verdade.
No ódio, existe um incômodo, certa consideração, ainda que negativa, do ser odiado, de modo que qualquer ação desse ser gera uma reação. Ou seja, o ódio se importa, embora querendo destruir.
A indiferença, porém, age como se o ser que deveria ser amado estivesse morto. Nada o afeta, nem o bem nem o mal que esse ser pode causar.
A maior tristeza, no entanto, é perceber que todos nós estamos sujeitos a ficarmos indiferentes em alguma medida com diversas coisas na vida.
Você pode ficar indiferente em seu casamento, o que é algo muito grave, tendo em vista que a pessoa com quem você se casou precisa da sua sinceridade, do seu amor, dos afetos reafirmados.
Você pode estar indiferente quanto ao seu trabalho. A sua atividade não o apetece mais, não instiga, não o desafia nem o preocupa.
Entretanto, o que fazer quando essa indiferença afeta a sua vida espiritual, quando você se sente seco, sem vida? O que fazer quando a vida da igreja não o afeta mais, a pregação da Palavra de Deus não mexe mais com você?
O nosso Senhor Jesus falou à igreja de Laodiceia sobre não ser quente nem frio.
“Ao anjo da igreja em Laodiceia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus:
Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente!
Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca.” (Apocalipse 3.14-16)
Pensar que Jesus conhece todas as minhas obras, e que todas elas estão em avaliação, me assusta. Paulo afirma isso em 1Coríntios.
“Manifesta se tornará a obra de cada um; pois o Dia a demonstrará, porque está sendo revelada pelo fogo; e qual seja a obra de cada um o próprio fogo o provará.
Se permanecer a obra de alguém que sobre o fundamento edificou, esse receberá galardão;
se a obra de alguém se queimar, sofrerá ele dano; mas esse mesmo será salvo, todavia, como que através do fogo. (1Coríntios 3.13-15)
Todos os nossos pensamentos, obras e intenções serão passados pelo fogo, assim como se passa a madeira e os metais.
Cada elemento responde ao fogo de uma maneira. O ouro e a prata são cada vez mais purificados quando expostos ao fogo. Ou seja, aquilo que tem valor fica ainda melhor quando passado pelo fogo. Agora, madeira ou palha não subsistem e não sobra nada aproveitável desses elementos.
A indiferença nos deixa apáticos, sem forças. Afeta tudo aquilo que fazemos, como também os nossos pensamentos e sentimentos. Uma vida de apatia certamente será avaliada pelo nosso Senhor e afetará o nosso galardão. Haverá o Dia do Senhor, quando estaremos diante do Seu julgamento.
A indiferença é um inimigo silencioso. Quando menos espera, você está num estado de apatia, com certo cansaço, preguiça, falta de entusiasmo. Todos nós conhecemos esses sintomas em alguma medida. Aqueles que são mais antigos de igreja certamente já passaram por isso.
Meu primeiro conselho seria: entenda que você está indiferente, mas não aceite essa condição. Às vezes, é difícil sair de um estado assim. Essa condição pode evoluir e permanecer por muito tempo, desencadeando muitos outros problemas. Os problemas espirituais vão se manifestar em todas as áreas da sua vida.
Portanto, não aceite como normal essa condição indiferente. Entenda que você está vivendo isso, mas tome algumas atitudes para quebrar esse ritmo.
Como disse antes, a indiferença na vida espiritual não fica apenas na “vida espiritual”. Tudo o que fazemos é, de certa forma, espiritual. Como abordamos na teologia do corpo, nosso corpo tem uma alma em uma unidade indivisível. Tudo o que é feito na matéria afeta o espiritual e vice-versa.
Certa vez, quando ainda me dedicava bastante ao estudo de violão, assisti a um concerto de violão flamenco. Ao final, perguntei ao violonista o que eu poderia fazer para aprender o violão flamenco. Eu tinha em vista agregar aquela linguagem musical ao meu modo de tocar. Ele me respondeu: “Para aprender violão flamenco, você terá que ir à Espanha. Terá que acordar numa manhã flamenca, tomar um café flamenco e viver um dia flamenco. Assim, talvez você consiga aprender algo sobre o violão”.
Eu entendi o recado. Eu teria que ter uma vida para me dedicar e entender a profundidade da música flamenca que era muito maior do que certo conjunto de notas e sonoridades.
Estamos vivendo as nossas vidas diante de Deus e esse conhecimento deve permear toda a nossa realidade. Acordamos numa manhã divina, tomamos um café da manhã divino e tudo ao nosso redor é divino, é espiritual.
Sem esse entendimento, eu lhe digo que a indiferença é o primeiro passo para angústias, murmurações. Logo as pessoas ao seu redor perceberão a sua amargura e não suportarão ficar ao seu lado; você ficará sozinho. Você pode chegar a uma depressão e isso tudo pode levá-lo à morte.
Em Laodiceia Jesus diz algo que demonstra como a indiferença se instala.
“Pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.” (Apocalipse 3.17)
A nossa cegueira e as preocupações com os nossos próprios planos começam a tirar do nosso radar que Deus é quem nos dá tudo e dirige a nossa vida. Jesus diz que a igreja de Laodiceia era rica e abastada e pensava sobre si mesma que não precisava de coisa alguma.
A nossa autossuficiência nos leva à indiferença. A indiferença surge pelo entendimento de que os objetivos pessoais são mais valiosos do que os propósitos de Deus para a sua vida.
Sei que talvez você não tenha forças agora para sair desse estado. Por isso, faça as pequenas coisas primeiro.
Ore. Orar não vai ocupá-lo demais; você nem precisa sair do seu lugar agora. Ore agora mesmo e peça a Deus força. Peça que Deus o levante e amoleça o seu coração para as coisas espirituais.
Leia a Bíblia. O Espírito Santo não trabalha onde não há a Palavra de Deus. O Espírito testifica sobre a Palavra de Deus e sobre a obra de Cristo aos nossos corações. Somos dependentes do Espírito Santo de Deus para que tenhamos vida espiritual consistente. Para isso, é preciso haver a Palavra de Deus na nossa mente, no nosso coração. Leia pequenas porções dos Salmos para conseguir sair do estado de letargia.
Aos poucos, comece a assumir alguns compromissos. Por exemplo, vá às reuniões de oração, vá a algum estudo bíblico, ou até mesmo dê algum estudo, pois esse compromisso o obrigará a estudar um pouco mais.
Minha oração é que você saia da indiferença e chegue a um vigor completo de disposição no reino vitorioso de Cristo.
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